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terça-feira, agosto 12, 2014

Retrato de família


Minha família "européia", por assim dizer, pois esta provavelmente seja a última foto tirada de nós antes de virmos para o Brasil. Esta foto desencadeou uma avalanche de emoções, horas e mais horas de pranto; pranto de saudade, prato de dor, lágrimas de "...Deus do Céu, como dói..." Baixei a foto diretamente dos arquivos da Harvard University e li alguns documentos (não tive ainda forças para ler tudo), que retiraram o véu de algumas lendas sobre a nossa vinda ao Brasil. Cresci ouvindo que Papai escolhera o Brasil como nosso definitivo lar. Não é verdade; os Estados Unidos e a Guiana Francesa, pelo menos, negaram-nos o visto de entrada. Éramos uma família muito numerosa (14 pessoas) e somente Papai tinha a possibilidade de obter trabalho remunerado. Em algum momento, quando já estávamos no Brasil, veio-nos sei lá de onde um donativo de 20 dólares americanos, depois de sei lá quem ter sido informado que nossa situação era desesperadora.De alguma forma, por graça de Deus, somente o Brasil teve a generosidade de nos acolher. Ainda me sinto no "olho do furacão" que esta foto desencadeou, mas sei, com clareza e certeza, de duas coisas: Ser filha de meus pais é uma honra e um motivo de imensa gratidão a Deus. Ser brasileira, mais que em qualquer momento de minha vida, tem um significado muito, muito especial. Meus pais foram "expulsos" de sua amada terra natal por força da estupidez e crueldade de ditadorzinhos liliputianos. Meu pai nasceu no mesmo ano em que teve início a Primeira Guerra e minha Mãe no ano em que ela - a guerra - terminou. O país em que eu nasci não me reconhece cidadania. Sou, portanto, brasileira, filha adotiva deste país que Deus abençoa tão generosamente. Quero, sim, honrar minha herança européia, meus genes "szalontays" e, quero, livre de qualquer sentimento de culpa, voltar a amar este Brasil como eu o amava na mocidade...

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